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o show tem que continuar
vestindo a amarelinha
unbreakable courts

nixon freire

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O SHOW TEM QUE CONTINUAR

NIXON FREIRE

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VESTINDO A AMARELINHA

NIXON FREIRE

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UNBREAKABLE COURTS

NIXON FREIRE

 

Enxergo a publicidade com um compromisso artístico, até mesmo social. Por mais que nós – sempre nas rotinas pesadas de diárias – tenhamos que sacrificar a execução de projetos mais pessoais, às vezes, eu ainda tento enquadrar duas vertentes no mesmo frame. A publicidade é uma grande ferramenta; está todos os dias na televisão, acessa diversas pessoas, e isso me fez entender o meu compromisso ao executá-la. Assim como outros artistas tomam o propósito de sua arte de uma esfera social, ou de uma esfera estética, procuro entender o meu papel diante disso tudo.Hoje, amadurecendo após cada projeto, busco camadas contemplativas, que atinjam as pessoas e sejam, de alguma forma, memoráveis. Quando recebo dos clientes o espaço para expor essa busca – a que, dentro do que fazemos, é a verdadeira –, é sempre uma ajuda. Porque é comprar a ideia de que, para fazer alguma diferença na sociedade, podemos ser verdadeiros. Mesmo quando metafóricos.

Não me considero um diretor de fotografia – sou um “film maker”. Falo isso pelo fato de dirigir, fotografar, e até mesmo produzir os meus filmes. Acredito, entretanto, que não conseguiria caminhar somente como diretor e continuei a fotografar para outros diretores, tanto por algum vínculo pessoal, como por indicação.

Filmar vem sendo o meu lar, portanto, nunca é um problema, mas um laboratório, onde o aprendizado está no outro. É como se o peso da câmera e a agitação da equipe técnica me deixassem mais ativo, com a mente borbulhando. Através da câmera, conserta-se o que foi pensado em um simples estalo ou mudança de ângulo, mas claro, com o devido suporte dos parceiros de maquinaria (Dennis Peres que o diga!).

No que diz respeito ao estilo, como bom geminiano, me aventuro para todos os lados. Dentro da publicidade, pluralidade é longevidade; o estilo é um exercício, não um fim. Pensando em nossas carreiras efêmeras, talvez o maior erro que um profissional poderia cometer é ter um perfil definido. Se o fotógrafo crava e mantém seu estilo, eu, como diretor, fico refém dessa rigidez; muitas vezes, deixando passar alguma beleza. Meu propósito, que vai além de entregar um filme, está na experimentação: tento refinar a imagem, de modo que ela não minta. E, para chegar na verdade da imagem – para acreditar nela –, é proveitoso ser mais versátil; dialogar com outros olhares, se permitindo a brincar com vários estilos, para então assimilá-los.

Em 2021, por exemplo, fiz as campanhas do Itaú, que se aproximam de algo mais plástico, altamente pop. Já essas três campanhas mais recentes são bem diferentes: “O show tem que continuar / Vai ter carnaval” e “Vestindo a amarelinha”, ambas da Brahma; e “Unbreakable Courts”, da Budweiser. Por empenho no discurso, sorte, ou mesmo por estar à frente do cliente, vendendo idéias para a evolução de algum conceito de marca, faço uso do visual para ser uma espécie de laboratório.

o show tem que continuar

vai ter carnaval

Por esse projeto, tenho um carinho especial. Primeiro, pela participação da incrível Alcione, de quem eu já era fã. Segundo, porque começou apenas como um teaser, para não queimarmos algumas mídias existentes, até se tornar isso. Uma vez que liberaram o filme para virar o comercial – e, simultaneamente, o próprio carnaval foi liberado –, foi uma loucura. Pude vislumbrar um pouco da linguagem que gostaria de criar com os códigos visuais da marca. Sobre a cinematografia como um todo, a proposta era trazer os tons dourados a partir de um conjunto: luzes, filtros, temperatura, direção de arte e figurino. O dourado, cor da cerveja, é parte de uma das principais camadas sensoriais do filme.

Tudo se encaixa, afinal, porque também costumo mexer com a arte. Nos empenhamos em trazer tons terrosos aos adereços e locações, de modo que entrávamos nas cenas já com alguma massa vermelha. Se, no momento da foto, cria-se uma mancha gráfica terrosa – deixando que o vermelho predomine nas fantasias e locações, apenas –, na pós-produção, ela assume tons mais quentes. Passa a fazer sentido, ao contrário de levar algo mais frio, para só depois esquentar. Tudo, desde a locação, foi calculado para auxiliar a criação; quando não, vira uma pintura.

Então, a partir dessa base orgânica para filmar com a temperatura mais quente, usamos uma câmera Alexa LF, com as lentes Masterbuilt Soft Flare. Quando a Masterbuilt chegou no Brasil, fui o primeiro a usar, porque gosto para caramba. Ela pasteuriza a cor, faz uma boa leitura; para o filme, nós a abrimos toda, deixando a imagem respirar.

A câmera, ali, é mais um espectador perdido no calor do carnaval. Para isso, contei com a operação de Sandrão (Sandro Galvão), amigo de longa data, uma Techno 30 (grua telescópica de 30 pés) e steadicam. Quando a câmera está nas mãos de outra pessoa, não há espaço para “truquinhos”: é preciso deixar o trabalho pulsar. Com Sandrão, tenho o espaço e a confiança de que posso errar, mas ressignificar o erro. Abro espaço para o improviso e deixo o feeling falar.

Foram três diárias intensas. Nas situações externas, usamos Maxi Brut, enquanto nas internas, deixávamos a temperatura como estava. Filmamos as cenas do ônibus e do metrô em dias que não coincidissem com as cenas internas, em uma mesma disposição de pessoas, atmosfera e horários. Nelas, utilizamos as lâmpadas Ásteras e Select, que trazem uma mistura de temperatura entre os tons quentes e frios, e dá a impressão de uma luz que incide de fora.

Para o sambódromo, fomos até um estacionamento em Madureira, que serviu, também, de base para a construção do carro alegórico. Levamos todo o equipamento de iluminação, de modo que fosse possível envelopar e criar aquele espaço. Utilizamos seis Genies (plataformas de elevação articuladas), com varas de seis metros cada, para suportar os Maxi Bruts e termos alguma agilidade no processo. Portanto, houve um controle do local, que, por sua vez, recebia uma operação gigante, com um fluxo considerável de pessoas. Além disso, utilizamos torres com girafas sustentando ARRI SkyPanels S360, permitindo o movimento de caminhada para a movimentação de câmera. Dennis Peres, ainda, trouxe a ideia de formar travessões com set lights (luzes de serviço de led), sugerindo uma semelhança com as luzes práticas de um sambódromo.

Ao longo de todo o processo, variei a Alexa entre 7000 e 8500 kelvins. Com um filtro T1 IR, foi possível eliminar a contaminação de infravermelhos próximos, que podem aparecer em tecidos tingidos por certos corantes industriais; além de acentuar um preto mais “limpo”.

Já para a função importante de filmar os diferentes tons de pele presentes na imagem – pretos, brancos e pardos –, utilizei o filtro FILTRO T1 IR + BLACK DOT 2, que tende a harmonizar os contrastes e trazer aconchego à textura, mas sem perder a nitidez. Eu gosto, porque ele atua um tanto mais na transição, do que na difusão. Já os tons amarelados, obtivemos com luzes e filtros, apenas. Sempre partindo de artifícios que, em si mesmos, de alguma maneira, embalem a fabricação visual.

VESTINDO A

AMARELINHA

A campanha “Vestindo a Amarelinha” é diferente porque veio em momento delicado: a camisa da seleção do Brasil havia sido sequestrada. Então, de certa forma, foi um posicionamento. Neste ano de copa do mundo, a Brahma trouxe como um mote principal a busca pelo significado original dessa camisa, bem como o seu retorno; por isso, não há a cor vermelha de sempre, mas as da seleção. Por se tratar de uma camisa oficial, de torcedor, foi necessário reforçar a sua presença de forma oculta – escondendo até a identidade visual da marca. A mensagem precisava ser direta, objetiva e forte.

A proposta que levei ao filme é a da contemplação: cada cena é uma fotografia com um tempo próprio de absorção. Por isso, os movimentos de câmera são suaves, como se fossem, também, uma referência ao que está sendo visto: por nós, pelo espectador, e pela coletividade.

A proposta que levei ao filme é a da contemplação: cada cena é uma fotografia com um tempo próprio de absorção. Por isso, os movimentos de câmera são suaves, como se fossem, também, uma referência ao que está sendo visto: por nós, pelo espectador, e pela coletividade.

O apelo por um sentimento verdadeiro foi construído de várias maneiras, e até mesmo a multidão de figurantes na torcida era completamente real. Para essa sensibilidade, em termos formais, tentei deixar a imagem o mais límpida possível. O Brasilzão é lindo para inventar texturas por cima das imagens. Aderi às lentes sharp para criar um frame que pudesse ser impresso, como uma fotografia, mesmo – sem ruídos, mas repleta de contrastes, como os que vão de norte a sul em um histograma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Todo o filme foi feito com Steadicam e uma Techno 45, porque é uma metáfora para seguir adiante. Já para a iluminação, levamos nossos próprios refletores, e tomamos o cuidado de não variar a luminosidade em direção à camisa: dessa forma, evitamos que a pós-produção interferisse na emoção da cena.
É engraçado: poucas vezes, vemos um filme de publicidade onde a câmera não acompanha de cima, o tempo inteiro, o rosto das pessoas. Mas aqui, temos um “mix” sutil de perspectivas. Há muito amor envolvido aí.

As referências para o filme foram extraídas de memórias, fragmentos de vivências pessoais em dias de jogo. Desde as memórias que criamos em casa, ou quando entramos confiantes em um bar, e escorre uma lágrima quando vemos o time em campo. Quem nunca? É algo que conecta todos os brasileiros, afinal: o sonhar e vibrar.

UNBREAKABLE

COURTS

Quando iniciei esse projeto, eu já tinha uma longa relação com Rincon Sapiência. Havíamos trabalhado em videoclipes e publicidades juntos, então, há um vínculo de confiança: Rincon entra no set sem saber de nada, geralmente, mas confia em nosso histórico. É engraçado. Mas, como é uma mente criativa nas palavras, facilita o meu trabalho de captar a mensagem.

Nessa campanha, nos juntamos a Rincon com um viés cultural e social: a marca, junto a agência, descobriu a existência de uma lei que protege os espaços públicos – praças, ou quadras de basquete, por exemplo – de serem destruídos em prol de alguma construção de edifício, caso tais espaços tenham intervenções artísticas homologadas pela prefeitura (lei 25/1937 – art 1 e 17). A partir desse conhecimento, a agência me chamou para imaginarmos a quadra de basquete sob um prisma social; reconhecendo aquele como um lugar que também é de arte, cultura, proteção e sonhos.

Eu vejo a quadra como um palco para a cultura urbana, como se o alambrado preservasse os sonhos das pessoas que, fora dele, podem ter uma vida cruel. É algo que evoca uma ideia de palco, de uma beleza que se distancia da vida real; por isso, trouxemos essa pitada de surrealismo com um holofote circular, focado em cada personagem. O todo confunde: isolar as expressões pertencentes ao espaço faz com que tenhamos uma leitura diferente da cultura que nos cerca.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Optamos pela imagem em preto e branco, para manter a unidade visual dentro da pluralidade tonal de trezentas pessoas em cena, sem as desviar de nosso foco. A construção das cenas visava a experiência sensível de uma manifestação: alternamos o movimento de câmera – ora lenta, ora na mão, com mais tensão e velocidade – conforme a variedade de olhares. Alguns contemplam e refletem, outros vivem a adrenalina, com as lembranças fragmentadas no calor do momento.

A fumaça reitera a atmosfera de uma cortina de proteção, ao passo que simula o mistério caótico que uma manifestação carrega em essência. Escolhemos uma quadra que viabilizasse o total controle da luz após o sol a pino do meio-dia, com alguma característica de arena. Utilizamos uma luz mais dura, com Maxi Bruts de 24K em torres de 12m. A luz dura do sol, por outro lado, é completamente simulada pelo Maxi Bruts, sem nenhuma difusão. Assim, tentei criar a veracidade sem o atropelo dos desenhos de luz regulares, deixando ela agir conforme o movimento de câmera, ininterruptamente.

O filme começa com uma sequência maluca, em um plano que gira por cima da manifestação, e depois, sem cortes, foca na discussão entre Rincon e um policial. Aqui, utilizei uma Technocrane 30 com a cabeça estabilizada em um movimento ousado – inusitado, mesmo –, pensado junto à disposição dos atores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para a granulação, não precisei de muito: foi um efeito natural da lente escolhida, já na intenção de “sujar” um pouco a imagem. Fui com uma Zeiss Superspeed S16, que na ARRI Alexa Mini me força a trabalhar em uma resolução mais baixa, Full HD. Assim, a textura da baixa resolução imprime um pouco do grão acentuado. Quando eu penso em aplicar o grão em pós, tento já criar uma imagem base que aceite esse tipo de intervenção, que já tenha uma textura mais difusa e com menos resolução. Acho que assim o grão sempre fica mais realista.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao longo das sequências, tivemos três pontos de atenção revelados com a luz – sendo o principal deles voltado a Rincon, nosso porta voz central – em conjunto com uma lente s16 Angenieux 11/150, microforce (comando eletrônico de zoom), e a grua, agenciando os movimentos circulares em uma coreografia de luz.

Em projetos como esse, dependo muito da performance dos personagens; aqui, porém, eles foram escolhidos para representar suas atividades, podendo ser algo mais performático ou não. Nesse sentido, para as cenas de dança, skate, ou rap, o zoom rápido foi útil para dinamizar as ações ao longo dos cortes de edição. É como eu sempre digo: deixa o coração pulsar. A cena dita o próprio movimento narrativo.

fichas técnicas

O SHOW TEM QUE CONTINUAR / VAI TER CARNAVAL

Agência: Africa
Diretores de Criação: Marcelo Bruzzesi e Henrique Martins
Head Of Art: Rodrigo Bonfim
Criação: Henrique Martins, João Corazza, Bruno Reis, Rodrigo Bonfim
Produtora/Imagem: Boiler Filmes
Diretor: Nixon / Dulcidio Caldeira
Direção De Fotografia: Nixon
Diretor de arte: Martin Garcia
Diretor de Produção: Rafa Pinto, Lucas Branco e Pedro Olaya
Figurinista: Carol Lobato e Denise Tupinambá
Coordenador de Pós-Produção: Fernando Barbieri
Finalizador: Renata Dalbem
Assistente de finalização: Rodrigo Azambuja
Montador: Vitor Cohen
Pós Produção: Flow Effects
Cor: Acauan Pastore – Color Granding

VESTINDO A AMARELINHA

Agência: Africa
Diretor Executivo de Criação: Quatrocci
Diretores de Criação: Henrique Martins e Raphael Santos
Criação: Bruno Antunes, Guilherme Portugal, Raphaela Filippetto, Lucas Menegotto
Produtora: Sicarios
Direção, Direção Criativa e Direção de Fotografia: Nixon
1º Assistende de Câmera: Adinan Lopes
2º Assistente de Câmera: Daniel Oliveira
Figurinista: Marquinhos Cherevek
Maquiagem: Kiko Moreno
Pos Produção: Guava Post
Montador: Matheus Tibira
Grading: Acauan Pastore
VFX: Flow VFX
Finalização: Pedro Labonia

UNBREAKABLE COURTS

Agência: Africa
Diretores Executivos de Criação: Angerson Vieira, Bruno Valença, Matias Menendez
Diretores de Criação: Fernando Marar, Rodrigo Barbosa, Raphael Santos
Direção de Arte: Bruno Valença, Raphael Santos, João Corazza, Fernando Marar, Sergio Gordilho
Diretora Criativa de Projetos Especiais: Juliana Leite
Montador e Motion Designer: Ricardo da Matta, João Corazza
Produtora: SICARIOS
Direção: Nixon
Direção Criativa: Nixon
Criação: Renan Moraes
Diretor de Fotografia: Nixon
Direção de Arte: Caca Montagnana
Stylist: Nina Guimarães
Montador: Lucas Bootleg
Color Grading: Acauan Pastore

mini bio

www.nixonfreire.com

Nixon Freire nasceu na Bahia em 1989 e começou como a carreira profissional como fotógrafo de surf. Depois de consolidar um trabalho de fotos still no mercado publicitário, enquanto paralelamente fazia experimentos com imagens em movimento, foi influenciado por Ricardo Della Rosa a migrar para a cinematografia. Mudou-se para São Paulo, montou uma produtora e passou a dirigir e assinar a direção de fotografia de seus próprios trabalhos, em campanhas de marcas como Puma, Dodge, Ford, Mercedez Benz, Jeep, ESPN, O Boticário, Brahma e Budweiser. Realizou também videoclipes dos artistas Rincon Sapiência, Sidney Magal e Pereira O’Dell. Em 2019, lançou o documentário de curta-metragem “Aquí Estamos” (https://vimeo.com/510462181). Entre os prêmios que conquistou estão o Leão de Ouro no Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, com a campanha Anorexia, em 2013 e El Ojo de Iberoamérica, com a campanha para a Aldeia Nissi, em 2014.

Fotos de making of: Bia Pinho